sábado, 4 de junho de 2016

Coração de Jesus, Desejo das Colinas Eternas


Esta expressão se encontra no Livro do Gênesis (49,26), na benção que o Patriarca Jacó invocou sobre José, nos assegura o Padre Paschoal Rangel (1993).
Entre as muitas graças e dons que o pai, próximo a morrer, pede para seu filho queridíssimo, está algo muito especial, cujo sentido pleno escapa hoje ao nosso entendimento. E era que, sobre ele e sua tribo (a única realmente abençoada por Jacó) descesse, juntamente com a abundância e a prosperidade, com o clima bom, as chuvas e a fecundidade com campos e das mulheres, a presença daquele, que é chamado "o desejado das colinas eternas". 
O texto tem sido interpretado tradicionalmente em sentido messiânico: o grande Esperado, o Desejado das Nações, era o Cristo. "Colinas eternas" é uma expressão que pode significar no texto de Gênesis (49,26), mais chãmente, a entrega a José das montanhas férteis de Israel. Porém, num sentido simbólico e muito recebido, as "colinas eternas" significam os grandes Patriarcas e Profetas, homens que, por sua virtude e santidade, estão acima da planície dos homens comuns. E o Cristo é o "desejado" desses grandes homens. 
O Coração de Jesus, pois, que foi objeto da esperança e dos desejos dos justos e do povo do Antigo Testamento, deveria ser hoje o objeto de nossas aspirações, de nossas preces, de nosso amor meditativo.E "ele virá, o desejado de todos os povos" - como diz o Profeta Ageu (Ag 2,8). De Daniel afirma a Escritura que ele foi "vir desideriorum", na tradução da Vulgata (Dn 9,23): um "homem de desejos", obstinado nas coisas de Javé e que nunca estava contente com o já conseguido. Sempre querendo mais, quando se referia ao bem de seu povo; sempre desejando entender melhor os desígnios do seu Deus, insaciável na busca da Sabedoria. 
No Evangelho de Mateus, conta-se que Jesus, um dia, disse claramente aos discípulos: "Muitos Profetas e justos desejaram ver o o que vós vedes e não o viram; ouvir o que vós ouvis, e não o ouviram" (Mt 13,16-17).O que os santos de antigamente e os cristãos mais piedosos de hoje desejam, é isto que nós também desejamos. Como São Paulo, gostaríamos de repetir: "O meu desejo é partir e estar com Cristo, pois isso é muito melhor" (Fl 1,23). Ou como o Salmista: "A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo. Quando tornarei a ver a face de Deus" (Sl 42,3). 
O Novo Testamento se encerra com um clamor intenso e silencioso: "Vem, Senhor Jesus!" (Ap 20,20). É essa a grande prece do Povo de Deus diante daquele que foi, é e será o DESEJO do que há de melhor em nós.
Meditação de São João Paulo II:
1. Durante estes domingos, reunidos para a oração do meio-dia, recitamos a ladainha do Sagrado Coração em união especial com a mãe de Jesus. 
O Angelus dominical é nosso encontro de oração com Maria. Com ele relembramos a Anunciação, que foi certamente o acontecimento decisivo em sua vida. 
E no centro desse acontecimento descobrimos o Coração. Trata-se do amor do Filho de Deus, que desde o momento da encarnação, junto ao coração da mãe, começa a se desenvolver no coração humano do filho. 
2. Esse coração é o "desejado" do mundo, como reza a ladainha?Considerando o mundo como visivelmente nos envolve, constatamos com São João que ele está submetido à concupiscência da carne, dos olhos, e ao orgulho da vida (1Jo 2,16). Parece estar longe dos desejos do Coração de Jesus. Não partilha seus desejos. Permanece estranho a Ele, quando não hostil. 
É o mundo do qual diz o concílio que "está colocado sob a escravidão do pecado" (Gaudium et spes). E o diz em conformidade com toda Revelação, com a Sagrada Escritura e a Tradição e até mesmo com nossa experiência humana. 
3. Esse mesmo "mundo", entretanto, foi chamado à existência pelo amor do Criador e por esse amor é mantido constantemente na existência. Trata-se do mundo que reúne as criaturas visíveis e invisíveis, e em particular "toda a família humana com a totalidade das coisas entre as quais vive" (Gaudium et spes, 2). 
Esse é o mundo que, exatamente por causa da "escravidão ao pecado", foi submetido à caducidade - segundo o ensinamento de São Paulo - e que consequentemente sofre e geme em dores de parto, esperando com impaciência a revelação dos filhos de Deus. Somente neste caminho ele poderá ser verdadeiramente libertado da escravidão da corrupção para participar da liberdade e da glória dos filhos de Deus (Rm 8,19-22). 
4. Esse mundo, apesar do pecado e da concupiscência, está voltado para o amor que plenifica o coração humano do filho de Maria.  
Unindo-nos a ela, peçamos: Coração de Jesus desejado das colinas eternas, dá-nos hoje a libertação que está em teu Evangelho, em tua Cruz e Ressurreição.(Angelus - 20 de julho de 1986) 

Notas:

RANGEL, Paschoal. Sagrado Coração do Homem. Belo Horizonte: O Lutador, 1993.

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